sexta-feira, 12 de junho de 2009

Laudo Psico


Avaliação psicológica e Síntese de Acompanhamento

1.0. Identificação da paciente:

Nome: MARCELO BOLSHAW GOMES
Idade: 48 anos

2.0. Solicitação:


Avaliação psicológica para a confirmação da documentação exibida pelo paciente anteriormente e acompanhamento psicológico (em psicoterapia) para fins de aumento da autonomia e da eficácia. Esta solicitação foi iniciada no mês de abril de 2009 e o acompanhamento psicoterapêutico continua sendo realizado e a avaliação foi concluída com êxito.

3.0. Testes e Técnicas Utilizadas

Em se tratando de um caso de suspeita de Síndrome de ASPERGER devemos observar a metodologia utilizada para a averiguação das queixas apresentadas, pois esta deve ser multifatorial e realizada em diferentes momentos de interação social. Não existe, ainda, na atualidade uma bateria de testes. No entanto isto não significa a inconclusividade do caso.
Logo, com o objetivo de entender melhor este caso foi optou-se por levantar dados sobre o paciente através de diferentes metodologias:

a) Anamnese clínica;

b) Aplicação do teste INVENTÁRIO DE HABILIDADES SOCIAIS;

c) Comprovação de habilidades sociais em provas de ‘Role and play’;

d) Comprovação dos modos cognitivos através da interação do mesmo em ambientes cotidianos do mesmo sobre ambiente pessoal e de trabalho;

e) Produção de material clínico (preenchimento de inventários/registros e produções próprias);

f) Modo narrativo de construção das interpretações da realidade (avaliação de estruturas cognitivas).

4.0. Dados Obtidos:

O Paciente apresenta um histórico clínico extenso de inaptidões sociais. Desde a infância, quando sofria bullyng em seus pares, era isolado, criava um mundo paralelo de explicações e de realidade e, ao mesmo tempo, apresentava um processo afetivo de vinculação diferente com as pessoas mais próximas.

O modo como Marcelo Bolshaw organizou suas escolhas e buscou constituir projetos de vida são mais voltadas para a busca de organização lógica e coerente de atuação das pessoas a sua volta do que exatamente para uma satisfação pessoal.

A aplicação do Inventário de Habilidades Sociais apresentou baixos níveis de habilidades sociais e, ao mesmo tempo, algumas respostas que apresentam incoerências se comparadas com respostas de pessoas na normalidade estatística. Esta discrepância observada constitui-se na incapacidade que o próprio teste teve em poder generalizar algumas conclusões neste caso específico. Apesar de ser um teste validado nacionalmente, perde a validade em função de Marcelo não conseguir realizar alguns pontos expostos no teste, mas conseguir realizar socialmente outros pontos mais complexos para a eficácia social.

No desenvolvimento do processo clínico foi notável o modo como Marcelo organiza as suas idéias e as integra em seus comportamentos. O pensamento do mesmo é rico em detalhes e rápido o suficiente para, às vezes, encontrar explicações mais filosóficas que baseadas em evidências.
Seu modo de interagir socialmente em situações criadas em ambiente clínico é de modo rígido e, por vezes, estereotipado de reagir a questionamentos sociais. O que não o inabilita a responder adequadamente a grande maioria de situações às quais estamos imersos, porém confere uma limitação no modo de fazer isso. A exemplo disso encontramos a pouca maleabilidade para interpretar adequadamente as emoções correlatas a cada situação e as possibilidades alternativas de respostas para o ambiente.

Marcelo apresenta interesses específicos e restritos ou preocupações com um tema em detrimento de outras atividades e que, muitas vezes, fogem a sistemática tradicional de interesses comuns (como quadrinhos, mitos, misticismo, ec.). Quando adolescente era apelidado de “Spock” em referência ao personagem vulcano da série “Jornada nas Estrelas” que não possuía emoções. Marcelo relata que diversas vezes foi alvo de uma incompreensível chacota de colegas e conhecidos por portar-se de modo diferente.

É notável, também, a grande capacidade de síntese que o mesmo apresenta, produzindo textos e colocações acerca dos assuntos discutidos que podem aproximá-lo de uma espécie de genialidade, não fosse a especificidade disso. Marcelo, ao curso de todo este processo, quase que semanalmente apresentava novos artigos, alguns próprios de publicação, acerca de sua condição ou até sobre a abordagem que utilizo para trabalhar habilidades sociais. Esta capacidade notável demonstra a sua inequívoca capacidade de raciocinar sobre a sua própria condição. Este processo serviu como ponto de auto referência e de constituição de responsabilidades e de possibilidades de amadurecimento. Marcelo foi capaz de realizar o próprio diagnóstico, um feito notório para qualquer pessoa comum, mas entendível para um Portador da Síndrome de Asperger com a genialidade na área de concatenações epistemológicas.

Esta grande capacidade de argumentação lógica esbarra em sua plasticidade comportamental. O mesmo apresentava dificuldades em interpretações de emoções sociais, como ironias ou a graça de piadas e anedotas, mas que tem se atenuado em função de seus esforços. Salienta-se, ainda, a dificuldade em expressar adequadamente desagrado ou irritação, sua face ainda não corresponde adequadamente ao que sente ou, ainda, é capaz de usar sua empatia para solucionar de modo assertivo as mais diferentes divergências sociais.

Apresenta ansiedade social em função de situações hierarquicamente simples (se considerarmos o grau de complexidade de momentos sociais aos quais se expôs durante o processo de atendimento).

5.0. Síntese Integrativa.

Marcelo Bolshaw apresenta dificuldades sociais significativas, interesses específicos e intensos, alterações de respostas emocionais e os problemas comuns a um adulto com síndrome de Asperger. Este transtorno é limitante na vida social adulta e causa uma série de pequenos transtornos, como passar por uma crise de intensa ansiedade em situações ditas normais ou interpretar erradamente as intenções do interlocutor. Podemos afirmar que muitas das dificuldades comuns de seu transtorno estão em fase de superação, mas ainda assim existem pontos importantes a serem observados. Principalmente os pontos associados ao modo como as relações de comunicação se efetivam com ele.

Apesar dos limites conferidos pelo Transtorno, salienta-se que para a vida profissional o mesmo encontra-se apto para lecionar desde que o ambiente de trabalho seja controlado. De modo que o mesmo deve realizar suas tarefas normalmente desde que se sinta integrado ao ambiente de sala de aula e fora de sala de aula.

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Natal, 4 de junho de 2009.
Alyson C M Barros
CRP 17° 4578
alyson@psicologianova.com.br
84 8811.8192

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