Síndrome de Asperger
Stephen Bauer
A Síndrome de Asperger, também chamada "Desordem de Asperger", é uma categoria relativamente nova de desordem de desenvolvimento. O termo entrou em uso geral nos últimos 15 anos. Embora um grupo de crianças com esse quadro clínico tenha sido descrito originalmente, de uma forma muito acurada, na década de 1940 por um pediatra vienense, Hans Asperger, a Síndrome de Asperger foi oficialmente reconhecida no "Manual de Diagnóstico e Estatísticas de Desordens Mentais" pela primeira vez na quarta edição, publicada em 1994. Devido a haver poucos artigos de revista compreensíveis na literatura médica até agora e devido a Síndrome de Asperger ser provavelmente consideravelmente mais comum do que inicialmente se pensava, esta discussão vai tentar descrever a síndrome em alguns detalhes e oferecer sugestões relacionadas à sua administração. Estudantes com Síndrome de Asperger são não raramente vistos na educação regular, embora freqüentemente não diagnosticados ou diagnosticados erroneamente, de modo que se trata de tópico de alguma importância para os profissionais da educação, assim como para os pais.
Síndrome de Asperger é o termo aplicado ao mais suave e de alta funcionalidade daquilo que é conhecido como o espectro dos Transtornos Invasivos (presentes e perceptíveis a todo tempo) do desenvolvimento (ou espectro de autismo). Como todas as condições ao longo do espectro, parece representar uma desordem de desenvolvimento neurologicamente fundamentada, muito freqüentemente de causa desconhecida, na qual há desvios e anormalidades em três áreas do desenvolvimento: relacionamento social, uso da linguagem para a comunicação e certas características de comportamento e estilo envolvendo características repetitivas ou perseverativas sobre um número limitado, porém intenso, de interesses. É a presença dessas três categorias de disfunção, que pode variar de relativamente amena a severa, que clinicamente define todos os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, de Síndrome de Asperger até o autismo clássico. Embora a idéia de um contínuo PDD (pervasive developmental disorder) ao longo de uma única dimensão seja útil para entender as semelhanças clínicas de condições ao longo do espectro, não é totalmente claro se Síndrome de Asperger é somente uma forma atenuada de autismo ou se as condições são relacionadas por algo mais que suas grandes semelhanças clínicas.
Síndrome de Asperger representa a porção das PDD caracterizada por elevadas habilidades cognitivas (pelo menos Q.I. normal, indo até as faixas mais altas) e por funções de linguagem normais, se comparadas a outras desordens do espectro. De fato, a presença de características básicas de linguagem agora é usado como um dos critérios para o diagnóstico de AS, embora esteja próximo de dificuldades subtis com linguagem pragmática e social. Muitos pesquisadores acham que há duas áreas de relativa intensidade que distinguem Síndrome de Asperger de outras formas de autismo e PDD e concorrem para um melhor prognóstico em Síndrome de Asperger. Estudiosos não chegaram a consenso se existe alguma diferença entre Síndrome de Asperger e Autismo de Alta Funcionalidade (HFA). Alguns pesquisadores sugerem que o déficit neuropsicológico básico é diferente para as duas condições, mas outros não estão convencidos de que alguma distinção significativa possa ser feita entre os dois. Um pesquisador, Utah Frith, caracterizou crianças com Síndrome de Asperger como tendo "traços de autismo". De fato, é provável que se pose encontrar múltiplos subtipos e mecanismos por detrás do amplo quadro clínico AS. Isto abre espaço para alguma confusão relacionada ao diagnóstico e é provável que crianças muito parecidas através do país venham sendo diagnosticadas como Síndrome de Asperger (AS), HFA ou PDD, dependendo de onde e por quem foram avaliadas. Uma vez que a própria Síndrome de Asperger mostra um espectro de severidade dos sintomas, muitas crianças menos usuais, que podem atingir critérios para esse diagnóstico não são absolutamente diagnosticadas e são vistas como "incomuns" ou "um pouco diferentes", ou são erroneamente diagnosticadas com condições como desordens de atenção, distúrbios emocionais, etc. Muitos nesse campo acreditam que não há uma fronteira clara separando crianças Síndrome de Asperger de crianças "normais porém diferentes". A inclusão de Síndrome de Asperger como uma categoria separada no novo DMS-4, com critérios mais ou menos claros de diagnóstico, pode levar a grande consistência de identificação no futuro.
O novo critério DSM-4 para diagnóstico de AS, com os critérios oriundos do diagnóstico do autismo, incluem a presença de:
Prejuízo qualitativo na interação social, envolvendo alguns ou todos dentre:
· Prejuízo no comportamento não-verbal para regular a falha no desenvolvimento de relações com seus pares em idade;
· Falta de interesse espontâneo em dividir experiências com outros;
· Falta de reciprocidade emocional ou social.
Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades envolvendo:
· Preocupação com um ou mais padrões de interesse restritos e estereotipados;
· Inflexibilidade a rotinas e rituais não-funcionais específicos;
· Maneirismos motores estereotipados ou repetitivos, ou preocupação com partes de objetos.
Estes comportamentos precisam ser suficientes para interferir significativamente com funções sociais ou outras áreas. Além disso, é necessário não haver atraso significativo nas funções cognitivas gerais, auto-ajuda/características adaptativas, interesse no ambiente ou desenvolvimento geral da linguagem.
Cristopher Gillberg, um médico sueco que estudou Síndrome de Asperger extensivamente, propõe seis critérios para o diagnóstico, elaborado sobre os critérios DSM-4. Seus seis critérios capturam o estilo único dessas crianças, e incluem:
· Isolamento social, com extremo egocentrismo, que pode incluir: falta de habilidade para interagir com seus pares, falta de desejo de interagir, apreciação pobre da trança social, respostas socialmente impróprias.
· Interesses e preocupações limitadas: mais rotinas que memorizações, relativa exclusividade de interesses – aderência repetitiva.
· Rotinas e rituais repetitivos, que podem ser: auto-impostos, impostos por outros.
· Peculiaridades de fala e linguagem, como: possível atraso inicial de desenvolvimento, não detectado consistentemente, linguagem expressiva superficialmente perfeita, prosódia ímpar, características peculiares de voz, compreensão diferente, incluindo interpretação errada de significados literais ou implícitos.
· Problemas na comunicação não-verbal, como: uso limitado de gestos, linguagem corporal desajeitada, expressões faciais limitadas ou impróprias, olhar fixo peculiar, dificuldade de ajuste a proximidade física.
· Desajeitamento motor: pode não fazer necessariamente parte do quadro em todos os casos.
Características clínicas
O mais óbvio marco da síndrome de Asperger e a característica que faz dessas crianças tão únicas e fascinantes é sua peculiar, idiossincrática área de "interesse especial". Em contraste com o mais típico autismo, onde os interesses são mais provavelmente por objetos ou parte de objetos, no Síndrome de Asperger os interesses são mais freqüentemente por áreas intelectuais específicas.
Freqüentemente, quando eles entram para a escola, ou mesmo antes, essas crianças mostrarão interesse obsessivo em uma área como matemática, aspectos de ciência, leitura (alguns tem histórico de hiperlexia - leitura rotineira em idade precoce) ou algum aspecto de história ou geografia, querendo aprender tudo que for possível sobre o objeto e tendendo a insistir nisso em conversas e jogos livres.
Tenho visto algumas crianças com Síndrome de Asperger cujo foco são mapas, clima, astronomia, vários tipos de máquinas ou aspectos de carros, trens, aviões e foguetes. Curiosamente, voltando à descrição original do Dr. Asperger em 1944, a área de transportes tem parecido ser de especial fascínio (ele descreveu crianças que memorizavam as linhas de metrô de Viena até a última paragem). Muitas crianças com Síndrome de Asperger, até três anos de idade, parecem ser especialmente atentas a coisas como as rotas nas viagens de carro. Às vezes as áreas de fascínio representam exagero de interesses comuns em nossa cultura, como Tartarugas Ninja, Power Rangers, dinossauros, etc. Em muitas crianças AS áreas de interesse especial mudam com o tempo, com uma preocupação sendo substituída por outra. Em algumas crianças, no entanto, os interesses podem persistir até a fase adulta e há muitos casos onde as fascinações de infância formaram a base para carreiras adultas, incluindo um bom número de colegas professores.
A outra maior característica de Síndrome de Asperger é a deficiente socialização, e isso, também, tende a ser algo diferente do que se vê no autismo típico. Embora crianças com AS sejam freqüentemente notadas por pais e professores como estando "em seu próprio mundo" e preocupadas com sua própria agenda, elas raramente são distantes como as crianças com autismo. De fato, muitas crianças com Síndrome de Asperger, pelo menos na idade escolar, expressam desejo de viver em sociedade e ter amigos. São freqüentemente profundamente frustradas e desapontadas com suas dificuldades sociais. Seu problema não é exatamente a falta de interação, mas a falta de afetividade nas interações. Eles parecem ter dificuldade para aprender a "fazer conexões" sociais. Gillberg descreveu isso como uma "desordem de empatia", a inabilidade de efetivamente "ler" as necessidades e perspectivas dos outros e responder apropriadamente. Como resultado, crianças com Síndrome de Asperger tendem a ler errado as situações sociais e suas iterações e suas respostas são freqüentemente vistas por outros como "ímpares".
Embora características "normais" de linguagem seja uma característica que distingue AS de outras formas de autismo e PDD, usualmente há algumas diferenças observáveis na forma como essas crianças usam a linguagem. Essa é a habilidade em que são mais fortes, às vezes muito fortes. Sua prosódia – aqueles aspectos da linguagem falada como volume, entonação, inflexão, velocidade, etc. – é freqüentemente diferente. Às vezes soa formal ou pedante, expressões idiomáticas e gírias são freqüentemente não usadas ou usadas erroneamente, e as coisas são freqüentemente tomadas literalmente. A compreensão da linguagem tende ao concreto, com problemas crescendo quando a linguagem se torna mais abstrata nos graus mais elevados. Pragmática, ou informal, habilidades de linguagem são freqüentemente fracas devido a problemas com retornos, uma tendência a reverter para áreas de interesse especial ou dificuldade de sustentar o "dar e receber" das conversas.
Muitas crianças com Síndrome de Asperger têm dificuldade com humor, tendendo a não "pegar" brincadeiras, particularmente coisas como trocadilhos ou jogos de palavras. A crença comum de que crianças com Transtornos Invasivos do Desenvolvimento são sem senso de humor é freqüentemente um erro. Algumas crianças com Síndrome de Asperger tendem a ser hiperverbais, não entendendo que isso interfere com suas interações com os outros e afastando-os. Quando se examina a história inicial da linguagem de crianças com Síndrome de Asperger não há padrões simples: algumas delas atingem normalmente, e às vezes até prematuramente os marcos, enquanto outras mostram claramente atrasos na fala com rápida recuperação da linguagem normal quando começa a fase escolar.
Nessas crianças abaixo de três anos em que a linguagem ainda não chegou à faixa normal, a diferenciação de diagnóstico entre Síndrome de Asperger e autismo leve pode ser difícil, a ponto de somente o tempo pode clarificar o diagnóstico. Freqüentemente, particularmente durante os primeiros anos, pode-se perceber características associadas à linguagem similares às do autismo, como aspectos perseverativos ou repetitivos da linguagem ou uso de frases feitas ou figuras de material ouvido previamente.
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