quarta-feira, 12 de agosto de 2009

JERRY NEWPORT



Aprenda com os verdadeiros especialistas
Os que estão no espectro

Tradução livre da Associação Mão Amiga

Jerry é um estudioso. Ele é capaz de executar cálculos matemáticos extremamente difíceis; com sete anos de idade ele calculava raiz quadrada, “de cabeça”. É conhecido internacionalmente por seus livros, seu humor, suas entrevistas na TV e outros compromissos onde fala. Jerry e sua esposa são o assunto do filme “Mozart e a baleia”, baseado no belo livro escrito pelo casal portador da síndrome de Asperger.

Entrevista com Jerry

- Qual a sua idade?
Completarei 60 anos no dia 19/8/2008, o que me faz dois anos mais moço que o Bill Clinton.

- Com que idade você começou a falar? Teve algum diagnóstico quando criança?
Minha família tinha um corvo de estimação, Blackey, cuja gaiola ficava pendurada perto do meu quarto. Eu disse minha primeira palavra, “hello”, entre um e dois anos, tendo aprendido com o corvo. Eu não tinha pronúncia e minha família costuma brincar a respeito sobre quem me ensinou a falar. Não tive nenhum diagnóstico, mas numa ficha escolar antiga há um comentário “ele é uma criança brilhante, no seu próprio mundo” (1ª série), e “não age de acordo com o seu potencial, é muito sonhador” (6ª série).

- Com que idade você ficou interessado em fazer amigos e quando teve o seu primeiro amigo?
Eu tive um amigo no jardim-de-infância.

- Como as pessoas poderiam ajudá-lo a se “enturmar” com outras crianças, quando pequeno?
Eu precisava de ajuda para portar-me bem, socialmente. Por exemplo, fui visitar um amigo e não havia ninguém em casa; entrei, usei o banheiro e, por isto, arranjei encrenca, sem entender o que havia feito de errado. Eu costumava dizer coisas que pensava engraçadas, sem me preocupar com a sensibilidade das outras pessoas.

- O que teria lhe ajudado a se sentir mais confortável, socialmente?
Eu precisava aprender maneiras de encontrar-me com moças e como relacionar-me com elas. Não tinha a menor idéia de como proceder e tinha medo de rejeição. Quando, finalmente tive coragem para marcar um encontro, estava tão obcecado por “conquistas” que não tive nem paciência nem verdadeira vontade de manter a moça interessada em mim. Eu precisava de muitos conselhos sobre comportamento social.

- Você era ligado a seus irmãos, quando criança? E agora?
Na maior parte do tempo eles pareciam tolerar-me; eram, também, muito protetores. Penso que agora somos mais ligados, mas eles moram longe.

- Você teve , ou tem, algum problema em olhar os outros “nos olhos”?
Sim, tive muitas dificuldades com isso e mesmo agora, às vezes, é difícil.

- Pode explicar por que é difícil?
É difícil eu me concentrar numa conversa, olhando nos olhos da outra pessoa.

- Você acha que se deve ensinar a “olhar no olho”?
Acho que se dá muita importância a isso. Eu, normalmente, olho a testa das pessoas e não os seus olhos.

- Quantos animais de estimação você têm?
Agora temos treze.

- De que modo você acha que os animais de estimação contribuem para a sua vida? Se os pais querem dar um ao filho, o que você recomendaria?
Eles são uma distração para se ver e ouvir. O “poodle” é o que fica mais tempo conosco. É muito leal e seu amor é incondicional. Adora dar e receber atenção. Penso que cães, gatos e “porquinhos - da Índia” são os melhores para as crianças.

- Sei que você tem habilidades de conhecimento. Poderia explicá-las e dizer sobre como contribuíram para a sua vida?
Minha habilidade com números é uma benção. Desde os sete anos fui capaz de fazer o que quisesse com os números. Isto fez com que as pessoas me olhassem de forma diferente, mas também parece ter levado as pessoas a pensar que isto compensaria tudo que eu não pudesse fazer.

- Além do seu notável talento com números, que outras fascinações e fixações você tem?
Eu gosto de música, humor, esportes, política, animais, genealogia e da vida ao ar livre.

- Alguma vez você experimentou vitaminas, dietas ou outras coisas que alguns pensam poder ajudar às pessoas do espectro?
Sim. Eu acho que a melhor coisa para mim são os exercícios físicos diários. Eu corro, e isso ajuda a me acalmar e a ter mais atenção.

- Há alguma coisa que os pais possam fazer para prevenir que a sua criança entre em depressão? Como podem eles reconhecer os sintomas iniciais do autismo?
Existem bons trabalhos escritos sobre o assunto e incluem sintomas a serem observados. Os pais não devem permitir que nos tornemos totalmente ligados ao computador. Devem fazer com que participemos de um clube ou de uma atividade do interesse comum de outras crianças da mesma idade.

- Você está empregado? Qual o seu trabalho? O que fez no passado?
Eu escrevo e dirijo um táxi em tempo parcial. Já fiz trabalho contábil, trabalhei com impostos, livraria, caixa e já fui professor auxiliar. Há um novo centro de convenções abrindo na cidade. Estou ansioso por este novo potencial de oportunidade, pois me sinto bem trabalhando em convenções.

- Deseja mencionar mais alguma conquista?
Fui membro do diretório central do Partido Democrata de San Diego .Foi resultado do meu trabalho voluntário em campanhas, participação em vários sindicatos e reformas que consegui na indústria local, de táxis. Sou orgulhoso por haver ajudado a fundar e dirigir a “AGUA”, o grupo de apoio onde encontrei minha esposa Mary, em 1993.

- Você é casado? Caso afirmativo, havia pensado nessa possibilidade? E sua esposa, está no espectro?
Fui casado, divorciei-me e casei pela segunda vez , com Mary, em 1994. Eu havia desistido desta possibilidade até encontrar Mary. Ela também está no espectro e tem dois filhos adultos de casamento anterior; eles mostram sintomas, mas não têm diagnóstico. Mary é avó de um menino e de uma menina.

- Pessoas do espectro são conhecidas pela rigidez de suas rotinas. Você acha que sendo casado com outro “aspie” fez com que se tornasse mais flexível?
Sim. Você tem que compreender que não poderá agir sempre da maneira como agia quando era sozinho.

- Se V. pudesse mudar algo sobre os neurotípicos, o que faria?
Haveria menor número deles. Com seriedade, eles não deveriam ter medo de ver autismo em algumas coisas, como fazem normalmente.

- Qual o conselho aos pais?
Aceitem o fato de que existem muitas maneiras de ser feliz. Sua criança poderá achar uma maneira que você nunca teria querido para si mesmo.

- Qual o conselho para os professores?
Não abaixe os seus padrões por causa de um diagnóstico. Não dê notas altas para elevar a auto-estima.

Ensine da melhor maneira que for capaz.
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