segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Desligados do mundo


FALTA DE COMUNICAÇÃO DE AUTISTAS E MITOS SOBRE A DOENÇA SÃO BARREIRAS PARA A SOCIALIZAÇÃO

O autista parece desconectado do mundo. Não consegue se relacionar nem é capaz de manter uma simples conversa. Não bastasse isso, a doença ainda é cercada por mitos que erguem outras barreiras ao redor do paciente, impondo um isolamento maior. Um dos mais prejudiciais é achar que a condição é consequência da falta de amor dos pais. Essa hipótese, elaborada pelo austríaco Leo Kanner, surgiu logo no início dos estudos sobre a enfermidade. Apesar de ter sido descartada anos depois, o mito se mantém vivo ainda hoje e incomoda os familiares.


Além de estarem erradas, essas falsas concepções atrapalham os portadores, reduzindo suas chances de integração à sociedade. Para um tratamento eficiente, o primeiro passo é derrubar os mitos.


Outra falsa ideia que rodeia o autismo é a da genialidade, que ganhou força graças a Hollywood. No filme Rain Man (1988), o vencedor do Oscar Dustin Hoffman interpretava um paciente com sérios distúrbios de comunicação. Em contrapartida, exibia uma inteligência espantosa, antecipando lances em jogos de cartas e ganhando dinheiro em cassinos.
Apesar de altas habilidades estarem presentes em casos raros, o filme popularizou a ideia de que autistas são pessoas incrivelmente inteligentes. Mas, na maior parte dos casos, não são. Uma grande parcela dos portadores apresenta retardo mental.


Por isso, têm grande dificuldade de aprendizado e podem apresentar comportamentos como machucar-se de propósito ou bater com a cabeça contra a parede. Além disso, a dificuldade de relacionamento diminui em muito as chances de que se tornem gênios.


Outro equívoco é crer que habitam um mundo particular, onde vivem felizes. – Apesar de estarem, na maioria das vezes, sozinhos e pensativos, os autistas não criam um universo paralelo. Há uma enorme dificuldade de interação social e de comunicação, que limita a participação deles na sociedade, tornando-os indivíduos isolados, com maneiras e rotinas peculiares – explica o psiquiatra Emílio Salle.

A origem do autismo, na verdade, nunca foi descoberta. Acredita-se que seja uma deficiência neurológica intimamente ligada à condição genética. Recentemente, a revista científica britânica Nature publicou um trabalho da universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, que identificou diversos genes ligados ao autismo, avançando no mapeamento da doença.

– Os pacientes podem nascer com forte predisposição ou adquiri-la durante os 18 primeiros meses de vida. A ciência encontrou várias alterações genéticas ligadas ao autismo, mas nenhuma delas é determinante, já que, em muitos casos, não há registro de alteração genética nem neurológica – explica o psicanalista Alfredo Jerusalinsky.

Falsas concepções


Saiba qual é a verdade por trás de alguns mitos a respeito do autismo:

- Os portadores da doença amam muito, sejam os familiares ou outras pessoas do convívio. O problema é que nem sempre sabem como demonstrar afeto. Os pacientes são sensíveis ao ambiente onde vivem

- O mito surgiu quando o primeiro pesquisador a identificar o autismo atribuiu o fato às “mães geladeira”, sem emoção. Anos depois, a hipótese foi r evista, e a falta de amor acabou sendo descartada como causa da doença. O engano persiste por causa da dificuldade dos pais em se relacionar com os filhos

- O isolamento é consequência da dificuldade de comunicação. Com o tratamento, os pacientes podem conseguir se expressar melhor e passar a viver em harmonia com as pessoas à volta. Isso demanda uma boa dose de esforço e paciência

- O autismo é uma doença neurológica, genética e psicológica, que afeta principalmente a capacidade de comunicação. Muitos autistas não interpretam dados porque as informações não são “filtradas” corretamente pelo cérebro

- O autista, muitas vezes, não tem a capacidade de simbolizar, ou seja, de encontrar significados abstratos para gestos, palavras ou movimentos. Isso causa dificuldades de interpretação

- Muitos pacientes, por exemplo, ao deparar com uma mão aberta, podem ter dificuldade para entender o gesto. A mão aberta pode signifcar um aceno, um sinal de pare ou mesmo o número cinco, de acordo com o contexto

- Muitos autistas, entretanto, podem demorar ou mesmo não conseguir interpretar dessa forma, e entendem apenas que a mão está aberta

- Essa dificuldade cria um problema de comunicação com as outras pessoas, dificultando a empatia e provocando o isolamento
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Extraído de: http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,1161,2703651,13440

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